Terceira temporada de Bom dia Verônica está no ar. Netflix. Acho essa série péssima. Padrão Globo de qualidade, ou seja, o melhor do pior brasileiro. Roteiro fraco, atriz gata e fraca, personagens risíveis. Só os masculinos brilham, como já é tradição de vilões à moda brasileira. Porque a gente gosta é mesmo de um bom vilão. A novela brasileira sempre foi feita pra gente gozar dos bons e inesquecíveis vilões.
Nunca entendi como as mulheres podem gostar das personagens mocinhas. Elas são sempre idiotas, bobocas, infantis. E quando decidem fazer uma personagem mulher madura, independente, ela só passa a ser uma boboca que trabalha bem. Nunca entendi porque temos excelentes roteiristas e péssimos roteiros de novela. Personagens reciclados, não tem consistência, história, criação. Mas é a tal da demanda de mercado. Pior que isso, só ir pra Record fazer novela de Jesus e ainda receber figurino sujo e com pulgas.
Piadas à parte, o ápice de Bom dia Verônica foi a primeira temporada, no enredo paralelo protagonizado por Eduardo Moscovis e Camila Morgado. Aquilo foi um show de atuação. Até hoje acordo assustada com aquele piado de passarinho que ele fazia pra ela chegando em casa. Quando dois atores derrubam o roteiro, a direção, o enredo, é porque alguma coisa realmente surpreendente aconteceu ali. Mas eles morreram e foi isso. Precisa matar os melhores personagens senão eles apagam a protagonista da série. Hoje tô piadista. E nem é um roteiro da Shonda.
A gente ama tanto o Gianecchini que adora o esforço dele pra ser um vilão. Mas é o Giane, nosso novo Gay favorito. A gente adora ter o Rodrigo Santoro fingindo não ser careca, ator brasileiro nas américas, orgulho do povo brasileiro. Ao invés de se submeter a ser papel de bosta na Globo, foi ser papel de bosta onde se paga em dólar. Espertíssimo. Mas o personagem dele tá ridículo e estereotipado. E a gente detesta a burguesinha filha de coronel de direita Maitê Proença. Mas juro que não repararíamos em nada disso com um bom roteiro, com uma boa construção de personagem. Pra não ser tão ruim, o roteiro até convence em alguns breves momentos, mas os personagens são frágeis, sem consistência. E a Tainá Muller, gata demais. Mas nossa senhora, ruim com força.
A terceira temporada começa com uma cena ridiculamente estereotipada, logo no primeiro capítulo. O domador de cavalos, interpretado por Rodrigo Santoro, demonstra para Verônica suas habilidades de amansador de cavalos ariscos. Ele doma o animal que se deixa tocar e amansa. Imediatamente, ele toca o rosto de Verônica. Ela abaixa a guarda e se deixa tocar pelo seu amor. Ela aceita beijá-lo e vai em sua direção. Mas agora é ele quem recua, fazendo o jogo dócil e manso para ela. Mais óbvio do que isso impossível, pra chamar a gente bem de burra. Mulher é bicho arisco, selvagem, meu deus essa metáfora não tem fim? Juma Marruá já acabou com ela nos anos noventa. Superem. Animais são vocês com essas fantasias instintivas. Roteiro escrito por homens representando a mulher e o prazer feminino é sempre essa desgraça.
Corta para a próxima cena. Os dois fazem sexo animal no estábulo. Ele monta nela, de costas os como animais, dando a ela o prazer de bicho arisco amansado que ela merece. Peraí que vou ali vomitar e já volto. Cinquenta tons de cinza reloaded.
Ainda estamos nisso? 2024. Não tem rolling eyes que aguente. É só isso mesmo. Não tenho nem o que discutir. O melhor do pior brasileiro. Mas depois de mulherada ter ficado frenética com o filme da Barbie e com o final supreendente e super feminista quando ela descobre que tem vagina e vai ao ginecologista…. o pior do feminino no mundo. O que esperar senão o exercício da ironia? Eu agradeço, mas passo. Obrigada. Vão assistir Pobres Criaturas no cinema. De nada.
Para citar o texto: ACCIOLY, A. (2024) Verônica. Em: www.alineaccioly.com.br
