Mensagem do passado

Sábado, 12 de janeiro de 2021

Abro o bloco de notas do computador e não sei o que escrever. Encaro a tela preta por alguns minutos, leio anotações escritas a lápis no caderno a minha frente, na mesa, e mesmo assim as palavras me faltam.

As palavras me faltam. Talvez eu tenha faltado as palavras. Não comparecido mais as minhas mãos colocando-se a manipula-las, até que elas tomem alguma forma. Tenho ficado ocupada demais diplomando. É, a diplomacia mata. Mata meu desejo. E deixa vivo os desejos de todas as pessoas as quais tento administrar e fazer caber o desejo. Todo final de ano é essa repetição.

Tento romper com essas correntes, mas a ruptura transborda e depois se apazigua, como uma onda no mar em dia de maré recuada. Sabe-se lá quando virá outra. Desejo ser tormenta, mas o que me sobra é ser apenas atormentada.

Volto a rotina, escuto e ajudo pessoas a encontrar seus caminhos durante todos os dias da semana, reitero a confiança e a fé no desconhecido e no estranhamento, mas sigo aqui, sentada, presa nesse quarto, nessa mesa branca e nessa tela preta que me encara. As vozes dos pacientes cessaram, voltaram para suas vidas, e fico apenas com o barulho do ventilador de teto.

Para citar o texto: ACCIOLY, A. (2024) Mensagem do passado. Em: www.alineaccioly.com.br

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