Estou em um estado de desânimo
Que me faz definhar.
As pontas dos dedos enrugam,
Como uma pele que sente estar de molho,
Em banho maria.
Maria
Nome da minha avó,
da minha mãe,
da minha tia.
Das dezenas de mulheres-maria,
Em um corpo só.
Solidão cresce igual mato,
No quintal da casa dos vizinhos,
da casa dos meus filhos,
No quintal de dezenas de desamparados desse mundo.
O mundo gira igual pião sem ponta,
Tonteia para um lado,
Pipoca para o outro.
Triste objeto instável sem referência,
Brinquedo preferido de criança entediada,
Que incansavelmente repete o movimento
Pra ver se acerta.
Estou em um estado de desânimo
E você também.
Sonho eu, sonha você,
Sonha Maria,
Sonham os desamparados,
Sonha a criança insistente.
Ela gira, eu escrevo, você desenha.
Alguém lê.
Estamos ligados pelo fio infinito
Do mundo peão.
Solitários como o mato.
Para citar o texto: ACCIOLY, A. (2024) Quarentena. Em: www.alineaccioly.com.br
