Oi Geovanne, boa noite!
Encontrei seu envelope aberto na rua do meu bairro. Teve sorte, ainda não havia começado a chover. Nos últimos dias, em Minas Gerais, a chuva não tem dado trégua.
Você já reparou como temos o hábito de falar do tempo quando estamos embaraçados ou temos pouca intimidade com o interlocutor? Pois é. Vamos então direto ao assunto: envelopes guardam os mais preciosos segredos e histórias. Dentro deles habitam cartas, confissões, convites, poemas e quaisquer outros gêneros textuais possíveis como forma de transmissão afetiva. Fiquei constrangida ao encontrar seu envelope aberto, vazio, perdido na rua. Espero que da próxima vez que receber um envelope escrito a mão, que tenha mais cuidado com seu destino, independente de seu conteúdo.
Não trouxe ele pra casa. Deixei-o como uma parte da paisagem, como um resto de qualquer coisa que continue a instigar os passantes na rua, livres para fantasiar sobre qualquer coisa a respeito de seu mistério.
Apesar de toma-lo como descuidado, Geovanne, devo agradece-lo, afinal, seu envelope foi de grande serventia para mim, na tarde de domingo. Me fez esquecer, por alguns segundos, as obrigações da vida para me entregar a um devaneio escrito.
Um abraço,
Al
Lacan dizia que uma carta sempre chega a seu destino. E os envelopes usados e vazios, a que se destinam?
Para citar o texto: ACCIOLY, A. (2024) envelope perdido. Em: www.alineaccioly.com.br
