As quartas-feiras têm sido, contingencialmente, o dia mais inspirado de escrita. Talvez porque seja o único dia da semana que fico integralmente dedicada aos estudos, à leitura e ao exercício de escrita.
A conta de Virginia Woolf ficou ecoando em minha memória desde que escrevi o texto Cena de Escrita II. Nunca calculei quanto tempo levo para escrever e deixar uma página realmente pronta para publicação. Se contar pelo doutorado, sei que leva cerca de seis meses para escrever cada capítulo, entre a preparação com as leituras, os esboços, rascunhos, correções e versões finais. Contando que cada capítulo tem entre sessenta a oitenta páginas (às vezes eu levava cem páginas para chegar nas sessenta finais), então talvez eu chegue em uma conta aproximada de uma página a cada três dias. No entanto, no último capítulo – que foi publicado como livro, escrevi em apenas três semanas o texto integral. Nesse caso, levei cerca de oito horas para escrever cada página. O que concluo com isso? Absolutamente nada (e caio na risada).
Hoje eu consigo me divertir com esses cálculos absolutamente arbitrários. Mas houve um tempo da minha neurose que realmente perdi tempo tentando calcular esses referenciais obsessivos. Hoje, o que realmente conta é minha disposição à prática do desejo. As quartas se tornaram esse espaço reservado, no meio da semana, para as palavras ocuparem o tempo.
Quartas-feiras eram também os dias das primeiras reuniões dos primeiros freudianos. As atas das reuniões já foram publicadas no Brasil e nos dão acesso ao modo de funcionamento pré-psicanalítico. Os homens levavam suas proposições de estudo em textos escritos por eles e discutiam, promovendo uma nova rodada de leitura e evolução do texto nos encontros seguintes. Tudo ainda era muito inicial e primitivo, mas algo do jeito freudiano de estabelecer a formação do analista já estava sendo germinado por meios dessas reuniões das quartas-feiras.
Nunca sabemos onde a escrita vai nos levar. Mas sabemos que ocupar o espaço da vida com tempo de escrita produz algum caminho. Certamente.
Para citar o texto: ACCIOLY, A. (2024) Quartas. Em: www.alineaccioly.com.br
