Exercício de segunda (a partir de Torch, uma das minhas músicas preferidas)
Estou perdida de novo, fugindo. Procurando por amor em uma canção triste. Ouço o saxofone e o som rasga minha alma. Olho para o bar e todos os meus amigos estão no balcão, sentindo-se velhos. Estão presos em um profundo feitiço. Posso ver suas luzes se apagando e escutar seus gritos silenciosos. Digo que é só um sonho e peço que escutem minhas palavras, porque elas são como dinamite. Eles desconfiam da realidade e tentam evitar escutar as palavras. O feitiço brilha. Eu olho para a luz da tocha e a abraço, desesperada. Explosão.
Numa tarde de segunda feira acordo, depois de um cochilo, com a sensação do corpo queimando. A poucos segundos estava perdida, fugindo, procurando por amor e tentando salvar meus amigos de um profundo feitiço. Via gritos silenciosos em seus olhos, mas eles permaneciam no balcão, bebendo, duvidando da realidade que rasgava minha alma ao som do saxofone. Minhas palavras estavam prestes a explodir tudo, como dinamite. Mas antes de abraçar a explosão, vejo-os velhos, embriagados, enfeitiçados. As luzes se apagam e abro os olhos, com o corpo ainda quente.
Acordo de um cochilo profundo e percebo que estou num bar, ao lado dos meus amigos que ainda bebem. Eles reclamam da idade e parecem presos num feitiço do tempo. Escuto o som do saxofone tocar no ambiente, mas ele reverbera dolorosamente na minha alma. O som abafa os gritos silenciosos dos meus amigos, que desconfiam da realidade e riem das minhas palavras. Quanto mais eles riem, mais as palavras ficam com pavios curtos. Elas vão explodir como dinamite. Estamos todos perdidos. Fecho os olhos e me desperto, em chamas.
Coloco uma música triste para tocar. Escuto o saxofone e pareço buscar em sua melodia a fé na existência de um amor sem rosto. Com a alma rasgada, procuro meus amigos, mas eles estão enfeitiçados pelo tempo, sentindo-se velhos. Eles duvidam da realidade que minhas palavras detonam, como explosivos. Fujo, e de longe escuto seus gritos silenciosos. Agora estou perdida de novo, na estrada. Em chamas.
Para citar o texto: ACCIOLY, A. (2024) Tocha. Em: www.alineaccioly.com.br
